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Obras raras da biblioteca do MJ são restauradas por membros da APAE

por publicado: 21/02/2018 15h23 última modificação: 21/02/2018 15h47
Nos próximos dois anos, cerca de 25 mil livros e periódicos passarão pelas mãos dos profissionais da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais –Apae

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A publicação mais antiga da biblioteca data de 1496                                                                         Fotos: Isaac Amorim

Brasília, 20/2/18 -  Traças, ah... essas pequeninas que corroem a história. Sim, esses insetos são os piores inimigos de livros; aliadas aos fungos, causam o maior estrago. E o que faz a Biblioteca do Ministério da Justiça com o acervo? Contrata os serviços de higienização e restauração da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais –Apae. O exército exterminador da instituição é composto por seis jovens que, cuidadosamente, limpam página por página, passam fungicidas e restauram os buraquinhos deixados pelas traças em obras raras, que compõem um tesouro do Ministério da Justiça. A mais antiga data de 1496. São cerca de 25 mil livros e periódicos que passarão pelas mãos desses habilidosos profissionais nos próximos dois anos. O trabalho começou agora, no início do ano.

No total, nossa biblioteca conta com um acervo de aproximadamente 100 mil volumes, composto por livros, folhetos, periódicos e recursos eletrônicos. Porém, somente a coleção Afonso Pena Júnior (18.069 exemplares), a Goethiana (6 mil exemplares) e a de Obras Raras (2.300 exemplares) serão higienizadas e restauradas no primeiro momento.

A Coleção Afonso Pena Júnior apresenta obras com valor agregado por efeito de anotações realizadas ao longo do tempo por personalidades públicas, dedicatórias e diversos ex-libris (um tipo de selo do dono da biblioteca). A Coleção de Obras Raras do Ministério da Justiça é formada pela coleção completa das Leis do Brasil, de 1808 até 2001, e pelos Relatórios do Ministério da Justiça, a partir de 1832. Estas duas são as principais coleções que justificam a presença do Ministério da Justiça no Guia do Patrimônio Bibliográfico Nacional de Acervo Raro.

Essas publicações não estavam disponíveis para o manuseio e podiam até se deteriorar por falta de cuidados especiais desde os anos 1980. Agora, após anos sem tratamento, a coleção Afonso Pena Júnior terá o tratamento adequado. O chefe da Biblioteca, André Sousa Sena, explicou como era feita essa preservação. “Antigamente era a Fundação Petrônio Portella que realizava ações de preservação no âmbito da pasta. Porém, a finalidade da fundação voltava-se aos estudos e pesquisas na área da Ciência do Direito”.

A Fundação foi extinta em 14 de fevereiro de 1989. Desde então não houve tratamento do acervo de obras raras. Mas o trabalho desenvolvido pela fundação não se assemelha ao realizado no contrato da APAE. “Este tem por objeto a higienização e pequenos reparos em acervos bibliográficos específicos. Enquanto o trabalho da fundação era a preservação da gestão documental como um todo”, esclareceu.

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O trabalho 

A preservação de uma obra impede que chegue ao ponto de ser restaurada, segundo André: “O restauro é a última alternativa viável para a recuperação do livro. A preservação prolonga e muito a vida útil de um livro”. Mas para realizar esse trabalho, são necessários conhecimento e técnica. Ensinamentos esses que a Apae transmite a seus alunos.

As limitações dos jovens da Apae não os incapacita para o mercado de trabalho, revelou o supervisor e instrutor da Apae, Glauco Santos. “A execução deles é excelente. São muito atentos ao que fazem”. A Apae oferece vários cursos e cada um escolhe o que melhor se adapta. Uma vez colocado no mercado de trabalho, eles recebem um salário da categoria e a  carga horária é 4 horas por dia.

Elizângela Alves, uma das componentes da equipe, conta como tem sido sua experiência com a limpeza dos livros da biblioteca. “É muito bom, eu era muito assim (faz gestos rápidos com as mãos para dizer ser ansiosa, agitada), mas hoje estou mais calma. Estou feliz”, contou sorridente.

O acervo 

Talvez esses jovens não se dêem conta que estão preservando um acervo histórico, que pertenceu ao jurista e ex-presidente do Brasil Afonso Pena, exatamente o sexto homem a ocupar a cadeira de chefe de Estado, de 1906 a 1909. Seu filho Afonso Pena Júnior, herdeiro da biblioteca, foi ministro da Justiça de 1925 a 1926. Ele era também um bibliófilo. Após sua morte, a família doou sua coleção para o Ministério da Justiça.

Além da biblioteca do ex-ministro, serão higienizados os exemplares da coleção Obras Raras do ministério. Este acervo precioso contém obras impressas no ano de 1496, guardadas em cofre. São dois incunábulos, livros impressos nos primeiros tempos da imprensa, antes mesmo da invenção de Gutenberg e do descobrimento do Brasil. Os títulos são Petrarca do humanista italiano Francesco Petrarca (1304-1374), a obra mais antiga pertencente ao Ministério da Justiça, de 1496 e Horácio de 1498, este exemplar foi restaurado, possui glosas e capitulares ornamentadas.

Destaca-se entre as obras raras, a Arte de furtar, do padre Antônio Vieira (1608-1697). Manuscrito de 1652, o livro manteve-se inédito durante mais de 90 anos. Foi impresso pela primeira vez em 1743, em Lisboa.  A Arte de Furtar não ensina a roubar, mas demonstra as numerosas formas de roubo e desmascara as múltiplas espécies de ladrões, para que os leitores deles se acautelem e o rei lhes dê "o castigo que merecem". Do clero à burguesia, passando pelos militares e pela nobreza, o autor descobrindo as "unhas" e as "traças de ladrões", excetuado convenientemente "os ministros que assistem a El-Rei". Arte de roubar  é considerado um monumento da prosa barroca e o mais importante texto da literatura de costumes da língua portuguesa.

Outro tesouro escondido da Biblioteca é a Coleção Goethiana, livros de e sobre a maior expressão da literatura alemã, Johann Wolfgang Goethe (1749-1832). Não se pode afirmar, mas possivelmente seja a mais completa da América Latina. São seis mil livros comprados pelo Ministério da Justiça em 1971. Dentre essas, exemplares de “Fausto” e outras obras de Goethe. Há obras do século 18, algumas artesanais e ilustradas a ouro.

E depois? – De acordo com a bibliotecária Gabriela Gomes, responsável pelo projeto, a higienização é só o início de um projeto grandioso que está por vir. Findo o trabalho de restauração, os livros serão catalogados e digitalizados. “As obras passarão a fazer parte da primeira biblioteca digital do Ministério da Justiça, a ser disponibilizada na internet”, revelou. Mas a ideia ainda está sendo maturada, uma vez que o ministério não possui recursos para realizar a digitalização das obras, o que demandará uma estrutura especial.

“O objetivo é modernizar a Biblioteca do MJ, para promover o acesso e a divulgação do conteúdo digitalizado das obras raras, favorecendo ao usuário – cidadão atendimento rápido e de qualidade”, explicou.

Só então esse rico patrimônio histórico-cultural, formado por diversos tipos de documentos (livros, periódicos, manuscritos, teses e folhetos), escondido em uma sala do Ministério da Justiça vai ganhar o mundo.

Veja mais fotos do trabalho desenvolvido na biblioteca e das obras raras do acervo

 

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